sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Pipocas da Vida




   









     Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho para sempre. Assim acontece com a gente.
   As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo, fica do mesmo jeito a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e uma dureza assombrosa.
    Só que elas não percebem e acham que seu jeito de ser é o melhor jeito de ser. Mas, de repente, vem o fogo.
    O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos: a dor.
    Pode ser fogo de fora: perder um amor, perder um filho, o pai, a mãe, perder o emprego ou ficar pobre.
    Pode ser fogo de dentro: pânico, medo, ansiedade, depressão ou sofrimento, cujas causas ignoramos.
    Há sempre o recurso do remédio: apagar o fogo!
  Sem fogo o sofrimento diminui. Com isso, a possibilidade da grande transformação também.
    Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro cada vez mais quente, pensa que sua hora chegou: vai morrer.
    Dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar um destino diferente para si.
    Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada para ela.
    A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo a grande transformação acontece: BUM!
    E ela aparece como uma outra coisa completamente diferente, algo que ela mesma nunca havia sonhado. Bom, mas ainda temos o piruá, que é o milho de pipoca que se recusa a estourar.
    São como aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem.
    A presunção e o medo são a dura casca do milho que não estoura.
    No entanto, o destino delas é triste, já que ficarão duras a vida inteira.
    Não vão se transformar na flor branca, macia e nutritiva.
    Não vão dar alegria para ninguém.

Extraído do livro “O amor que acende a lua” 
de Rubem Alves

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